Só para raros.

[Entrada ao preço da razão]

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Fumaças Complexas

~~
~~
No começo, tomou um gole amargo de café. Delicioso. Revisitou velhos textos, então somente para reuní-los aos novos. Notou quão empoeirados estavam, com resquícios de um passado encorpado, ora quente, ora esfriado, que não possuía mais mesmo sentido aromático.
Tomou outro gole, olhou o céu, e acendeu seu Punch. Havia envelhecido, como em barril de carvalho, mas, mesmo achando graça no cheiro ocre daqueles feixes de madeira encharcados num assamblage de castas duvidosas, sabia que não avinagraria.
Talvez, magenta ácida, ou então marrom tintura canhestra. Nunca água.
~~
No meio, sorveu um gole seco de vinho. Capcioso. Comparou seus escritos e a evolução de suas conversas à pena. Notou traços de um pessimismo em relação ao passado, e toques de um otimismo em relação ao futuro.
Tomou outro gole, olhou o tráfego, e acendeu seu Esplendido. Havia amadurecido ao fundo daquele destilador laudanário, mas sabia também que o entorno de vida que cercava suas colheres, vasadas, seria mais perfumado.
Talvez, verde letárgico, ou então repulsivo anis. Nunca frutado.
~~
~~
No fim, domou um gole ardente de absinto. Fulguroso. Rasgou seus escritos e a revolução de suas ideias à álcool. Notou que havia futurado ao topo, do fundo da morna xícara que emergira, sabendo que novos tempos de escuridão estariam por vir.
Tomou outro gole, olhou o espelho, e acendeu seu Romeu y Julieta. Havia desenhado um novo céu verdejante, pistacheado, recheado de estrelas de chocolate, gigantes, presente doce e mortal a si mesmo.
Talvez, obnubilado vapor, ou então cremoso vulto. Nunca, mais, claro.
~~
~~

Nenhum comentário:

Postar um comentário