Não conseguia mais dormir. Desistiria de perder quarenta horas de suas semanas ao chegar à inexorável conclusão falando alto em pensamento: "Parei de escrever. Parei de compor. Parei de cantar. Parei de correr. Parei de amar. Parei de sonhar." O que restou?
Saudou então aquela doce letargia com um longo abraço em si mesmo. Sobre o criado-mudo, seu chá de camomila, fumegante, enevoando o ambiente ao redor, à um-quarto-de-luz.
Fechou a janela pois queria respirar: a si e o gigante mundo à sua volta, que parecia medir exatos seis metros quadrados.
Não se permitia mais sonhar. Não era a vez dele. Parece que só é livre quem tem, não quem é. Mas ninguém "é", não é mesmo? Somente se "está". E essa era a música de sua vida.
E ele estava só. Venturoso. Sozinhando em amargas glosas, sofismando. Lembrou d'um poeta do ultramar, e concordou: "estamos só visitando, quebrando como ondas do mar".
Caviloso, hesitou, querendo exitar. Sentiu o gosto amargo do chá que bebia, e ouviu sons na relva clamando seu nome. Esqueceu-se de Drummond. De Pessoa. De Campos. De Anjos. Lembrou-se de Bandeira. Passaria então a vida à toa, a se lamentar?
Debaixo do cobertor, seu protetor, riu-se de si. Tomou mais um gole, e declamou, baixinho:
(- Sou rei de mim...e sou feliz assim.)