Só para raros.

[Entrada ao preço da razão]

terça-feira, 26 de junho de 2012

Oração à Hemostasia

A cada ano que nao sorvo magia e nao posso vomita-la em canto;
A cada mes que nao sinto encanto numa tal tensa face intensa enrijecida pelo tempo;
A cada semana que aspiro o perfume ocre do rio morto que corta a cidade;
A cada dia a mostrar os dentes pelas oito horas que escorrem no estabulo; A
A cada minuto que nao ejaculo estrelas;
A cada segundo pensamento, daquele tipo que pondera, prende, amarra, enraiza e inercia;

Inerte: sangro.

Rio.
Sangro.
Rio e sangro em demasia!

Hemorrajo dores.
Coagulo sonhos.
Queria ser agua;
Mas verto vinho.

Enfim, avinagro.
Evaporo.
Remanesço.

Aguardo alegre pelas traças que marcharao sobre a terra;
Pela proxima pagina;
Pelas paredes bordeaux descascadas;
Pelo bolor do teto pinguejante;

Por mim;
Por ti;
Por nos:

Amem.

domingo, 10 de junho de 2012

Tudo bem?

. [silêncio] . [Poucas vezes na vida se pode ter o privilégio de ouvir poesias em diálogos. Difícil é ouvir algo interessante hoje em dia. Sempre presos em conversas de elevador. Circunscritos ao estado da meteorologia. Da reforma do prédio. Do falso interesse em como o outro estaria. Como estaria? E o que importa? Perguntar-se-dever-se-ia ao outro: como estou hoje? Soo bem? Quão próximo de uma pintura de Matisse meus cabelos parecem estar nesse momento? Além disso: Uma bela coleção de momentos interessantes. Algumas conversas filosóficas ao nascer do sol na saída do metrô. Sorrisos bobos refletem o gosto de café com chocolates da Côte d'Ivoire. Discutem-se sobre os rumos do país n'um branco banco de ferro. Olhando-se a lua. Jorram-se ideais no firmamento. Todos se divertem na festa à beira da piscina. O engarrafamento casi-fatal ameaça a aventura de pincelar à guache o escuro lago de Lausanne. Um casal infeliz se reencontra em despedida no ponto de ônibus. Um casal infeliz despede-se em reencontro no aeroporto. Suja-se de tinto o vinho da pintura interior. Muitos pássaros voam com o passar do automóvel branco. Sente-se um gosto amargo do outro lado do país. Um filho arrasta a mala de madrugada. Não se acordam os pais. Um cão jaz morto há dias na calçada daquele bairro movimentado. A continuação do filme foi vista antes da primeira. O que nos prende aqui? Mais um quadro de vidro com grafite vermelha se parte na quina de uma mesa qualquer. Uma música há muito não ouvida: também uma valsinha: 'Let me sing you a waltz. Out of nowhere, out of my thoughts'. Òu est ma Simone de Beauvoir? Uma nova canção do porvir. Vontade de engolir o mundo. Ou morder uma maçã-verde bem verde. Há tempos, é tempo de alguma revolução. D'uma ascese que não vem. D'um radicalismo que não chega. Chega. Para mais e para além:]

- Tudo bem e você?