Só para raros.

[Entrada ao preço da razão]

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Rea|l|usão

"Vivia ele no alto de uma árvore cujas sementes havia ele mesmo plantado. Enganado por quem lhe vendera tal ilusão de algo que lhe traria felicidade eterna, do tamanho daquilo que cabia dentro dele. Poderia não ser muito, mas era o que esperava de alegria. Ainda sem saber do engano que sofrera, plantou-as cuidadosamente. Eram três, como três marias no céu, três mosqueteiros nos livros e três reis magos outrora. Três sementes de ilusão que foram plantadas com toda a inocência de uma verdade eterna. Do alto de sua árvore ele olhava a todos nós aqui embaixo, e sorria da nossa idiotice em acreditar que a ilusão que nos foi vendida era nossa verdade eterna.

Ele não. Descobrira muito antes que de ilusão se planta árvores, até mesmo um gigante pé-de-feijão. Do alto dele, era a vida que levava, tendo consciência de que tudo o que o cercava nunca chegaria perto da felicidade que gostaria, mesmo porque agora já não conseguiria medir o tamanho do tudo que caberia dentro dele.

Ele sabe. E por isso, não mais, vive. Não acima de ninguém, apenas mais do que os outros". - PGB

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Resta 1

Se nada é feito
nada é sentido
nada é dito
resta então tudo
- a todo o resto.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

En Paz

"Muy cerca de mi ocaso, yo te bendigo, Vida,
porque nunca me diste ni esperanza fallida
ni trabajos injustos, ni pena inmerecida.

Porque veo al final de mi rudo camino
que yo fuí el arquiteto de mi propio destino;
que si extraje las mieles o la hiel de las cosas
fué porque en ellas puse hiel o mieles sabrosas:
cuando planté rosales, coseché siempre rosas.

Cierto, a mis lozanías va a seguir el invierno;
¡mas tu no me dijiste que Mayo fuese eterno!
...Hallé sin duda largas las noches de mis penas;
mas no me prometiste tú solo noches buenas;
y en cambio tuve algunas santamente serenas...

Amé, fuí amado, el sol acarició mi faz.
¡Vida, nada me debes! ¡Vida, estamos em paz!"



Amado Nervo

domingo, 16 de junho de 2013

Corrida Breve

No taxímetro
O relógio da vida progressa
Perdidas vicissitudes no êmbolo
Arredondam-se as arestas do vento
Prum breve montante menor
Prum breve montante maior
 
No relógio
O taxímetro da vida pregressa
Prendidas vicissitudes no pêndulo
Arredondam-se as arestas do tempo
Num breve instante passado
Num breve instante futuro
 
E lá e cá
Moram dois instantes da sorte
Que laicamente
Sopram ao sul ou ao norte:
Desconhecidos caminhos da vida
Conhecidos descaminhos da morte

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Adeus, marinheiro


Só sobram a mim, as espumas das ondas azuis do verão
Soçobram em mim, os barquinhos virados na luz do trovão
Muito foram ululados: negros ventos por ti no razão
E tantos peixes alados: a cantar lá sol sem dó de si no porão

Nunca mais me visitastes, tampouco pôdes me escrever
Já não podias mais me ser ao fim nem teus botões coser
Mas sei que ainda suspirava a maresia em tempo ver
Pesadelava em heresia ao me sentir só por chover

De bombordo a boreste, marujo sobrestado!

Sobre este estado, não mais resta rede e peixe não mais há
Pois foste ao fundo do teu céu buscar a estrela do teu mar