“Tumbleweed, you
are just a boy, with a bottle of wine trespassing your head, dealing with the
fermentation of your decaying neurons”, lia-se na faixa negra amarrada ao
pulso, amargo lembrete.
Mas,
olhou as folhas ao redor e recordou porque subiu, porque desceu, da videira: lampejos
de encantamento; riscos no firmamento – estrelas cadentes encantadoras
rabiscando de um azul muito peculiarmente escuro, cianesco, um breu que enche a
dita alma de exasperação; momentos de sentido. Gotas espessas de prazer
hedonista inédito e inaudito. A chuva molhando o rosto com cheiro de relva que
lembrava a Toscana italiana, mas eram apenas as Minas Gerais brasileiras.
Contos breves, mas de genialidade ímpar, daqueles que voltam à mente aos 80, 90
anos, justificando que, também por isso, a vida valeu, de alguma forma, a pena.
Alguns chamam – clamam – tratar-se de feroz e veraz paixão, daquelas fugazes
que duram exatos trimestres, segundo especialistas, mas.
Paremos
aqui. Rabiscados, riscados, os céus já jazem, marcados pelas nuvens do mal. Do
errado. Do púrpuro. Do pecaminoso. Do mal be(c/m), gelado, derretendo taninos
sobre a complexidade dos gostos e cheiros e memórias e texturas de tardes e
noites que teimam em reamanhecer – e, sem precisar, parecem dever acabar. Ao
fim e ao cabo, nas profundezas desses momentos, únicos de sentido, para além
das convenções que tentam regular, proibir, definir por quê e pelo quê estamos
aqui nesse planetário chamado terra, lembramos que estamos apenas visitando,
como ondas, apenas quebrando e fazendo alguma espuma salgada, quebrando alguns
minérios para alimentar a vida, tentando retirar, dar, e aproveitar o máximo
dessa experiência que esse firmamento já riscado – por alguma razão que nos
foge, nos escapa – nos deu. Nós somos Deus. Se não isso, bem, nada disso – mesmo
adicionando-se a manteiga derrentendo sobre o pão na luz nublada da manhã, o
abraço frio, os filhos indesejados, o gato doente, os olhares desviados ou de
soslaio –, nada, faz qualquer sentido.
Mas
talvez assim que deva ser.
Daqui
a alguns anos, poderá ou não haver novo alinhamento planetário, donde se verá
um terrível e maravilhoso choque que novamente a tudo destruirá em nome do
Belo, da Beleza – alguns chamam Arte. Ou então, uma grande e pesada sombra que
incitará reais e legítimas dúvídas sobre as possíveis realidades bandeirescas
paralelas, que teimam em nos lembrar de tudo que poderíamos ter sido, tudo que
poderíamos ter vivido – e não fomos – e não vivemos nssa coleção de frações de
segundos com ou sem sentido que acumulamos em sete, oito décadas, não mais. Tudo
em nome do firme firmamento que nos cerca e cerceia. Se existem multiversos –
como cada vez mais creio existir –, dois seres, líquidos como o amor de Bauman,
seguem sendo misturados em cada becker ensejando instáveis e explosivas
reações químicas, donde cada interação altera seus átomos originais, gerando
energia e calor no processo. O resultado só é conhecido nessa outra dimensão –
mesmo que influenciado pelo que ocorreu nessa, seguindo-se algumas teorias
correntes.
Embotado
como nunca, sei que, por incontáveis razões, não estarei aqui por muito tempo. Como
crianças presas em corpos grisalhos, enrugados ou botoxados, seguimos silentes,
tentando à alguma maneira, sem entender, ver como e o que devemos fazer para sorrir
e voltar a sentir, de forma simulada, projetada, todos os aromas daqueles vinhos
nunca sorvidos, nunca plenamente compreendidos, nunca completamente engolidos,
digeridos, revolvidos à língua. Ah, o nariz, o retrogosto, por tanto tempo
ansiados, por ora cuspido neste profundo recipiente escuro que lembra o dito firmamento
que vimos num quadro negro qualquer na infância. Sim, dói um pouco ouvir
ressoar seco do eco da saliva batendo ao fundo. Mas, é o que resta: tentar
resumir momentos mágicos e singulares em vãs palavras ébrias que jamais
conseguirão abraçar o som da respiração ofegante que subitamente se prende ao ver
uma estrela cadente riscando – por um instante, uma venda e uma fenda no nosso tempo
– o certo-e-errado desse negro céu que aprendemos, de alguma forma – calma, não
se assuste – a amar.
Resta
fechar os olhos e ver por dentro o espaço sideral, e sonhar com multiversos
onde, em algum lugar foi possível extrair muito, muito, muito mais beleza dessa
memória poética, bem antes que ela se tornasse kitsch.
Eis
que, então, derreto e termino escorrendo por essa amarga grama onde agora repouso
meus olhos:
“Quero
tempestade....
Recebo
vento...
Verto
orvalho..
E
viro amaranto.
E sigo
soprado, para longe de onde vim
– ainda longe do deserto de sentido que me aguarda”.
– ainda longe do deserto de sentido que me aguarda”.
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