Só para raros.

[Entrada ao preço da razão]

domingo, 10 de junho de 2012

Tudo bem?

. [silêncio] . [Poucas vezes na vida se pode ter o privilégio de ouvir poesias em diálogos. Difícil é ouvir algo interessante hoje em dia. Sempre presos em conversas de elevador. Circunscritos ao estado da meteorologia. Da reforma do prédio. Do falso interesse em como o outro estaria. Como estaria? E o que importa? Perguntar-se-dever-se-ia ao outro: como estou hoje? Soo bem? Quão próximo de uma pintura de Matisse meus cabelos parecem estar nesse momento? Além disso: Uma bela coleção de momentos interessantes. Algumas conversas filosóficas ao nascer do sol na saída do metrô. Sorrisos bobos refletem o gosto de café com chocolates da Côte d'Ivoire. Discutem-se sobre os rumos do país n'um branco banco de ferro. Olhando-se a lua. Jorram-se ideais no firmamento. Todos se divertem na festa à beira da piscina. O engarrafamento casi-fatal ameaça a aventura de pincelar à guache o escuro lago de Lausanne. Um casal infeliz se reencontra em despedida no ponto de ônibus. Um casal infeliz despede-se em reencontro no aeroporto. Suja-se de tinto o vinho da pintura interior. Muitos pássaros voam com o passar do automóvel branco. Sente-se um gosto amargo do outro lado do país. Um filho arrasta a mala de madrugada. Não se acordam os pais. Um cão jaz morto há dias na calçada daquele bairro movimentado. A continuação do filme foi vista antes da primeira. O que nos prende aqui? Mais um quadro de vidro com grafite vermelha se parte na quina de uma mesa qualquer. Uma música há muito não ouvida: também uma valsinha: 'Let me sing you a waltz. Out of nowhere, out of my thoughts'. Òu est ma Simone de Beauvoir? Uma nova canção do porvir. Vontade de engolir o mundo. Ou morder uma maçã-verde bem verde. Há tempos, é tempo de alguma revolução. D'uma ascese que não vem. D'um radicalismo que não chega. Chega. Para mais e para além:]

- Tudo bem e você?

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